quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Inferno, Perdição ou Salvação?



“Eu os remirei do poder do inferno e os resgatarei da morte; onde estão, ó morte as tuas pragas? Onde está, ó inferno, a tua destruição? Meus olhos não vêem em mim arrependimento algum.” (Oséias 13.14) RA

Sobre o inferno. É difícil de entender o que é na verdade, pois assim como o céu, não há evidencias concretas e especificas de como é, e onde se encontra. Até o presente momento só existem folclore e especulações religiosas.
Então afinal o que é o inferno? Existe lago de fogo lá? É a residência do diabo?
Tudo o que não compreendemos criticamos, mas cada coisa tem o seu lugar na história e o seu contexto literário. Este texto não é dogmático nem sistemático, não se trata de um dossiê do inferno, mas uma reflexão que pode trazer luzes a alguns de nossos questionamentos.
Nosso dicionário da língua portuguesa descreve que inferno é: o “lugar em que ficam as almas dos pecadores após a morte, um lugar de tormento e suplica”. Mas na concepção bíblica do Antigo Testamento o termo inferno é conhecido como “xeol” que faz referencia ao destino final dos mortos, que significa lugar (subterrâneo) de todos os mortos, é a mesma palavra citada no versículo acima de Oséias. Quando a bíblia hebraica foi traduzida para o grego (cerca de 200 a.C) e para o Novo Testamento este termo tornou-se em “hades” também traduzido por sem visão e por morte (cf. At 2.27-31; Ap 1.18) também conhecido como lugar do julgamento. Também no Novo Testamento aparece o termo “geena” um abismo de fogo onde se castigavam as pessoas depois do juízo final (cf. Mt 25.41).
Na Bíblia em seu contexto hebreu/Judaico o inferno é um lugar de esquecimento e de morte não existe fogo nem inflama as almas e não é a casa do diabo, pois de acordo com o profeta Isaias: Lúcifer não desceu para o inferno e sim na “terra/mundo” (Is 14.12). Já no contexto helênico há uma mistura de ideologias, misturando culturas e mitos ao pensamento judaizante influenciando e gerando a mansão dos mortos, o lugar do julgamento, e do fogo/castigo eterno.
Falar de inferno, primeiramente temos que mencionar morte, pois estão totalmente conectados, temos também que anexar seu o antônimo céu. Pois não há paraíso se não houver inferno, não haverá inferno se não houver paraíso. Ao contrário do que muitos pensam o inferno ou a perdição eterna é a maior causa de que todos querem ir para o céu, o medo do inferno é um dos principais fatos que legitima o céu. Desde de o período medieval a igreja assustava seus fieis com o medo do inferno, para a cobrança de indulgências. Em suma o inferno era e ainda é utilizado mais para a salvação através do medo da perdição, de vidas que não conhecem o verdadeiro evangelho.
“Não há necessidade de fogo, o inferno são os outros” (Jean-Paul Sartre). Esta frase declara o pensamento iluminista que o inferno não é somente um lugar físico, mas também é um estado daquele/a que estão perdidos e separados de Deus para o mal. Concordo que o inferno não é somente um lugar especifico e também um estado, mas não concordo que inferno são os outros pois nossa salvação, vida e relação depende também do outro, pois Deus criou a humanidade para a coexistência uma relação de unidade em meio a diversidade (suas diferenças). “Inferno não é o outro, é a ausência do outro...” (V. de Moraes) ou seja a solidão o esquecimento eterno e ter tudo e não possuir nada. Creio que o inferno é tudo e todos que não refletem a Deus e estão distantes de sua vontade e presença displicentes de sua graça, portanto a nós cristãos nos cabe salvar as pessoas de sua solidão, morte, pragas e destruição pessoal como esta no versículo de Oséias, para que em arrependimento possamos ver o outro e não a nós mesmos...
“Devemos tirar as pessoas do inferno e o inferno das pessoas...” (A. Ramos) porque o inferno é um devorador faminto e voraz da humanidade nunca satisfeito e sempre pedindo mais. Que assim possamos não almejar o céu, o paraíso e a salvação por medo do inferno, mas sim por que nos encontraremos com quem amamos e com o autor e consumador da nossa fé! Que o inverno não seja um pretexto nem a razão de nossa fé, por que estaremos refém dele.
“O inferno e o abismo nunca se fartam, e os olhos dos humanos nunca se satisfazem”. (Provérbios 27.20)

Autor: Pr. Israel A. Rocha

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